quarta-feira, outubro 9

Avaliação de bem-estar em suínos e ruminantes


A avaliação do bem-estar (BE) passa pelo uso de indicadores que nos fornecem informação importante sobre o animal e o ambiente. Segundo Botreau et al, 2008 o BE passa por quatro princípios que se dividem em vários critérios:

1) Boa Alimentação
ausência de fome e sede
   
2) Boa Habitação
conforto geral
conforto térmico: desconforto térmico leva a alteração do comportamento normal do animal
capacidade e liberdade de movimento
recursos

3) Boa Saúde e Condição Corporal (CC)
ausência de lesões;
ausência de doenças;
 ausência de procedimentos dolorosos

4) Manifestação de Comportamento apropriado
expressão de comportamento social "normal"
expressão de outros comportamentos
boa relação Homem-animal
ausência de medo ou ansiedade
bom estado emocional



Vendo agora com mais pormenor alguns dos parâmetros:

SUINOS

1) Conforto térmico: como os suínos não suam, têm um pior sistema de controlo de temperatura. É por isso que são muitas vezes encontrados a rebolar na lama, fazem isso para se refrescarem. Ver muitos suínos sujos com lama e fezes pode ser indicador de stress térmico, e ambas as situações aumentam a incidência de infeções, que por sua vez agravam o mau-estar.
Má regulação da temperatura na exploração leva a aumento da mortalidade dos leitões devido a hipotermia (eles têm uma janela de temperatura ideal pequena, sendo essa diferente da janela da progenitora) - muito importante o uso de luzes ou tapetes térmicos.


Numa exploração de suinicultura deve-se então ter em atenção a ventilação e velocidade do ar, o tipo de pisos/solos (condutividade térmica) e tipos de jaulas/parques.
Perante temperaturas baixas na exploração, os suínos tendem a amontoarem-se para obtenção de calor, e tendem a dormir ou descansar em decúbito esternal. Suínos com calor tendem a dormir em decúbito lateral.

2) Liberdade de movimento: a sua falta deva a lutas entre os animais, aumento da agressividade e competição. Deve haver separação dos animais em lotes pequenos e um melhor desenho do plano da exploração.

3) Ausência de lesões: dependente da ausência de agressividade, sendo essa dependente da densidade populacional e da presença ou ausência de recursos para todos os animais.

Os leitões manifestam stress e confrontos após desmame, assim como menor ingestão alimentar. Isso leva a perdas produtivas devido à necessidade de mais 2 semanas para obtenção do peso ideal de abate. Ou seja, é também importante para o produtor certificar-se do bem-estar animal na sua exploração, nem que seja só por motivos económicos. Estas agressões podem ser evitadas através de enriquecimento ambiental, recursos para todos os animais, barreiras físicas e solo apropriado para descanso.

É possível uma seleção genética de animais menos agressivos, resultante em menores agressões entre leitões.

4) Procedimentos e maneio livres de sofrimento: a castração deve ser feita com recurso a anestesia e analgesia (pré/durante/pós procedimento).

5) Comportamento: o "tail biting" ocorre quando há pouca estimulação ambiental para os suínos, acabando eles por se virarem uns para os outros. Pode ocorrer também por stress térmico, grande densidade populacional, períodos de alimentação restritos/fome crónica e problemas com os bebedouros. Tudo isto se pode moldar através de enriquecimento ambientes e melhor planeamento do espaço e lotes.

Os comportamentos estereotipados mais frequentes são: roer de barras, ranger de dentes, enrolar da língua, mordeduras de bebedouros e lambeduras do chão.

6) Relação Homem-animal: evitar situações de pânico.



RUMINANTES

1) Alimentação: condição corporal; indicadores de fome e sede

- Importante oferecer bons comedouros e bebedouros: ter em atenção o número, o comprimento, a limpeza e a qualidade de água/alimento

2) Conforto durante o descanso: possibilidade para se deitarem e descansarem num bom espaço. s camas devem ser cômodas, espaçosas, limpas e secas.

Indicadores de falta de conforto:
- Alterações comportamentais;
- Claudicações: como não se deitam, acabam por andar mais;
-  Problemas posturais;
- Os bovinos levam cerca de 5 segundos para se deitarem (até que pousam os membros posteriores no chão/cama) um tempo mais demorado para o fazerem pode estar associado a má conformação das camas - devemos realizar videos e analisar todo a linha de tempo durante a qual a vaca se deita;
- Vaca apoia-se nas barras (cama pequena e desconfortável);
- Vaca deita-se parcialmente ou completamente fora da cama;
- Vaca sujas: porque não têm um local limpo para se deitaram - pode levar a mastites, que gera mais stress, mau-estar e dor;

3) Conforto térmico: associado a problemas produtivos e de bem-estar. Desconforto térmico leva a diminuição de produção leiteira, ruminação, fertilidade e depressão do sistema imunitário.
Uma vaca que dê 30L/dia de leite gera mais 50% de calor do que uma vaca seca.


Deve-se controlar bem a temperatura, a ventilação, a humidade e a densidade animal da exploração. É importante ter em conta o tipo de chão/sedimento, devido às suas capacidades de condutividade térmica. Ter em conta o fornecimento de área de sombra e bom área de movimento para cada animal.
Cuidado com vitelos, são muito sensíveis a baixas temperaturas! (animais com menos de 15 dias de idade e submetidos a temperaturas inferiores a 15ºC manifestam stress).

4) Procedimentos não dolorosos:

- Descorna e queimadura do bulbo: é importante para diminuição de agressividade entre animais, mas deve ser feita sem gerar dor aos mesmos.
- Corte de cauda: leva a stress porque o animal deixa de conseguir afastar os insetos com tanta facilidade; é um processo doloroso se não for certificado e não apresenta efeitos na redução da incidência de mastites.

5) Claudicações: causam dor, alteração do comportamento e da condição corporal (CC). Podem dever-se a laminites, má higiene de cascos, mau aparo de cascos, más condições do solo ( leva a quedas e lesões ou mesmo fraturas). A claudicação é avaliada em 5 níveis, dependendo do tipo de movimentação do animal e se o mesmo apoia o membro afetado ou não.

6) Comportamento social: existem hierarquias entre os animais, sendo que os inferiores comem menos e mais tarde (podem ficar mesmo sem comer), havendo diminuição da produtividade e do BEA.

7) Relação Homem-Animal: evitar situações de pânico e medo.




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